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    terça-feira, 9 de agosto de 2011

    Revista MAD, sucesso nos anos 80...

    Que Brasileiro que viveu nos anos 80 e nunca leu e se divertiu com a Revista MAD, a história da revista MAD tem mais de meio século. Embora ela tenha demorado 22 anos para chegar ao Brasil, desde 1952 tem feito a cabeça de norte-americanos de várias gerações. Quando o primeiro número foi publicado em setembro de 1952, poucas pessoas se aperceberam de que aquilo seria uma mania que iria durar décadas e décadas a fio. Hoje, ultrapassada a barreira do ano 2000, a MAD continua firme e forte, e individualmente é a revista mais vendida da DC Comics, que atualmente controla a revista.

    Como tudo começou? Por incrível que pareça, por mero acaso. O criador da revista, Harvey Kurtzman, trabalhava para a E.C. Publications, que estava faturando bem por ter lançado uma linha de revistas de terror que fazia o maior sucesso, das quais Tales From The Crypt era o carro-chefe. Os Contos da Cripta foram criados pelo dono da editora, William Gaines, e pelo editor do grupo de terror e ficção-científica, Al Feldstein. Eram histórias apresentadas por uma trinca de âncoras sobrenaturais: O Zelador da Cripta, o Guardião da Câmara e a Bruxa Velha. Esses três, nas páginas das revistas de terror da editora, contavam histórias macabras com um estilo bem cínico, que logo se destacaram da concorrência, tornando a E.C. a líder no mercado. Todas as revistas de terror eram editadas por Al Feldstein, que escrevia a maioria das histórias, mas a Entertaining Comics Gordon, Lone Ranger, Pato Donald e outros personagens famosos da época eram implacavelmente escrachados pela revista, e o público delirava.

    O sucesso da revista motivou o aparecimento de um sem-número de imitações, uma delas sendo Panic, lançada pela própria EC e que era considerada "a única imitação autorizada de MAD". Usava basicamente o mesmo grupo de colaboradores (Will Elder, Jack Davis, John Severin e Wally Wood) e a única diferença era que era editada por Feldstein. Gaines agora estava literalmente nadando em dinheiro, pois não só as revistas de terror davam um bom lucro, como MAD estava faturando horrores. Só que um pequeno problema aconteceu: nos EUA começou uma perseguição aos gibis, e principalmente contra os de terror da EC, considerados barra-pesada demais por psicólogos, pedagogos e autoridades. Foi instaurada uma CPI no Senado norte-americano para estudar o problema e todas as baterias se voltaram contra Gaines. Na verdade, tudo não passou de uma articulação política das editoras concorrentes para retirá-lo do mercado, mas os efeitos foram devastadores: jornaleiros e distribuidores, temendo represálias, começaram a se recusar a vender as revistas e o império de Gaines desmoronou. Ele tentou, ainda, mudar a linha editorial da E.C., mas o fracasso foi total: somente a MAD sobreviveu ao massacre.

    MAD escapou, mas não iria resistir muito, pois o cerco estava se fechando. Uma nova lei regula­mentava os gibis, que tinham que ser submetidos à censura prévia, e necessitavam de um selinho de aprovação de um Código de Ética para poderem chegar às bancas.

    Foi aí que Kurtzman propôs a Gaines uma mudança radical na revista: a partir do número 24, MAD foi transformada de um gibi de 32 páginas em cores em uma revista em formato maior, com mais páginas, em preto e branco. Era uma maneira de burlar a censura, pois esse novo formato não estava sujeito a ser submetido ao Código.

    A nova fórmula do MAD fez mais sucesso ainda que a anterior, garantindo a sobrevivência financeira da E.C., mas novos pro­blemas co­meçaram: Kurtzman começou a se desen­tender com Gaines e aca­bou puxando o carro. Gaines não teve outra saída a não ser contratar Feldstein (que havia ficado desempre­gado com a falência das revistas de terror) para tocar a MAD. Sob a editoria de Feldstein, a MAD se popularizou ainda mais. Embora seu humor não fosse tão corrosivo e genial como o de Kurtzman, ele fez alguns incrementos que puxaram a tiragem mais para cima ainda, a começar pela sua decisão de colocar o perso­nagem Alfred E. Neuman em todas as capas.

    Como a equipe de Kurtzman se demitiu em solidariedade a ele, Feldstein teve que arregimentar um novo time de colaboradores, e assim entraram para as fileiras da revista nomes como Don Martin, Dave Berg, Al Jaffee e Mort Drucker, e mais tarde dois latinos, o mexicano Aragonés e o cubano Prohias (criador do Spy Vs. Spy). Esses e mais outros formavam a equipe dos "mesmos idiotas de sempre" que durante mais vinte ou trinta anos foram mantendo o mesmo padrão, que elevou a tiragem para perto de três milhões de exemplares — um dos maiores sucessos editoriais de que se tem notícia.

    Foi mais ou menos quando a revista estava nesse pique que ela chegou ao Brasil.

    Por que a versão brasileira da MAD levou tanto tempo para aparecer? A revista já existia nos EUA desde 1952, e sua edição original era figurinha fácil em qualquer banca ou livraria que vendesse revistas importadas. Todo mundo conhecia a revista, no entanto até a década de 70 nenhuma editora se atreveu a lançar uma tradução, embora a revista tivesse passado pela mesa de várias editoras importantes. Qual a explicação disso? Simplesmente porque todos achavam que seria impossível traduzi-la.

    Várias editoras importantes tinham simplesmente recusado publicar a revista. Ninguém levava fé que a revista fosse emplacar aqui! A coisa mais próxima da Mad que apareceu no Brasil foi uma imitação que teve o título O Loco, e era publicada pela Editora Taika. O Loco era uma cópia escarrada da MAD americana, toda feita aqui por um maluco chamado Clive Pop que escrevia e desenhava praticamente tudo com a ajuda de uns poucos colaboradores. Durou apenas três números até que a editora Taika que lançava a revista resolveu cancelá-la. Pop fez mais uma tentativa uns dois anos depois, relançando a revista com outro formato e um novo título: O São. Esta durou só dois números e também desapareceu.

    Foi então que surgiu uma editora "nova" no mercado, a Vecchi. Na verdade, a Vecchi era uma das editoras mais antigas do Brasil, mas publicava principalmente fotonovelas, e sua única revista em quadrinhos, Tex, não vendia lá essas coisas. Em 1973, Lotário Vecchi, o bam-bam-bam da editora, resolveu expandir sua linha de publicações e adquiriu vários títulos e personagens e precisava de alguém para cuidar do novo setor. Por intermédio de um amigo comum, Eduardo Baron, fui apresentado ao Lotário, que fez a mais estranha entrevista de emprego de que se tem notícia: - Sr. Otacílio, vamos ver se o senhor entende mesmo de histórias em quadrinhos, vou fazer um teste. Quem são os sobrinhos do Pato Donald? Qual a namorada do Mickey? Qual o nome do cachorro do Fantasma? Achei as perguntas ridículas. Não sabia se ele estava me gozando ou falava sério. Hesitei entre mandar o cara praquele lugar e responder. Acabei optando por responder, meio sem jeito. No final do interrogatório, Lotário se levantou entusiasmado, apertou a minha mão e disse: - Sr. Otacílio, o senhor foi o melhor candidato que apareceu aqui até agora. O emprego é seu! Parabéns! Saí de lá descrente, achando meu futuro patrão completamente imbecil. Qualquer idiota que tivesse dado as mesmas respostas teria sido contratado do mesmo jeito. Mas, algumas semanas depois, eu estava trabalhando em meu novo emprego.

    A primeira revista lançada pela Vecchi, Eureka, foi um fracasso total. Entretanto, os lançamentos seguintes, revistinhas em formatinho de Gasparzinho e outros personagens infantis, tinham vendido bem, o que impediu que a recém-fundada editoria de quadrinhos fosse abortada prematuramente, mas o melhor ainda estava por vir. Lotário estava fechando um negócio "com uns ameri­canos" e me informou que eu teria um novo título para editar, só não disse qual era para não dar azar. Quando assinou a papelada finalmente falou do que se tratava: a nova revista misteriosa era a MAD!

    Eu adorava a MAD e já comprava a edição americana desde moleque, por isso vibrei. O problema era que as únicas pessoas que acreditavam na revista éramos eu e o Lotário. Todo mundo em volta achava que seria outro fracasso como Eureka. Inimigos políticos de Lotário na própria família Vecchi torciam as mãos animados, achando que com mais esse fracasso teriam condições de dar um golpe de estado na editora e tomar o poder. Para piorar, a MAD havia fracassado em todos os países de línguas latinas onde havia sido lançada antes, inclusive na própria Itália. Distribuidores e outras editoras também torceram o nariz, achando que não passaria de cinco ou seis números. Por essa razão, a editora foi cautelosa e lançou apenas 40 mil exemplares do número 1, como teste, distribuindo a revista apenas nas praças do Rio e São Paulo. Se não vendesse, o encalhe seria distribuído para o resto do país e, bem... eu estaria com um pé na rua. Ninguém entendia o que um maluco cabeludo com cara de nerd estava fazendo numa editora tradicional de fotonovelas.

    "Em caso de fossa, quebre o vidro"

    Toda a oposição que havia contra a revista foi por água abaixo logo na primeira semana do lançamento: MAD estava vendendo muito bem! Mais 30 mil exemplares foram impressos às pressas e enviados para o restante do país. A capa "em caso de fossa quebre o vidro" virou um clássico. O mesmo pessoal que tinha torcido o nariz ficou de boca aberta. O melhor ainda é que as vendas foram aumentando a cada número! Um ano depois, a revista já tinha ultrapassado a tiragem de 150 mil exemplares, e ainda crescia. As editoras concorrentes desandaram a lançar imitações, que não chegavam aos pés da MAD e também não duraram muito.

    Estava indo tudo muito bem, bem demais até, mas havia um problema: a edição americana saía oito vezes por ano, e abrasileira, doze. Além disso, uma parte do material era inaproveitável aqui, pois se referia a seriados que não eram exibidos no Brasil ou eram coisas tipicamente americanas. A MAD brasileira corria o risco de acabar, ou se tornar bimestral, não por baixas vendas, mas por falta de material! Assim, começou para minha alegria um plano de nacionalização progressiva da revista! A partir do número 16, a MAD brasileira começou a publicar algumas páginas produzidas aqui. Os primeiros colaboradores foram o cronista Carlos Eduardo Novaes que fazia parceria com o ilustrador Vilmar Rodrigues. O humor de Novaes funcionava otimamente bem nas crônicas que publicava nos jornais, mas nos quadrinhos não emplacou, e a seção durou poucos números. Já o ilustrador Vilmar caía como uma luva para a revista, e virou colaborador regular, tanto na primeira como na segunda série, até morrer.

    Outros nomes famosos como Jaguar, Caulos e Nani foram chamados para a seção nacional, mas aos poucos foi se formando uma equipe de colaboradores com a cara da revista: Luscar (que criou o Dr. Baixada), Mariza Dias Costa, e mais tarde o iniciante Flávio, que se tomou regular. Além desses, com traço tipicamente de cartuns, apareceu um ilustrador de mão cheia, Carlos Chagas, que tanto era bom em capas à lá Norman Mingo como ilustrações internas à lá Mort Drucker. Chagas era tão bom que seu passe foi comprado a peso de ouro pela concorrente Pancada, mas quando esta acabou voltou para a revista. Quem segurou a barra durante a sua ausência, além do versátil Vilmar, foi um outro caricaturista, Ramade. Ramade depois se tomou um mágico famoso, e coerentemente sumiu.

    Muitos outros além desses citados passaram pela revista, que continuou estabilizada na faixa dos 150 mil exemplares até o início da década de 80. Então, uma coisa horrível aconteceu: a Vecchi começou a entrar em crise, endividada por causa da construção de um parque gráfico e maxidesvalorizações cambiais, além de sérias brigas internas na família. Aproveitaram a confusão para puxar o tapete e levei um belo pé na bunda: a partir da edição 92, a MAD brasileira não levava mais meu nome no expediente. Mas o castigo veio a cavalo, pois a editora faliu de vez um ano depois. A série da Vecchi teve 103 números e foi até fevereiro de 1983. Até o número que editei, estava vendendo cerca de cem mil exemplares. O último não vendeu nem trinta. Mas esse não era o fim da MAD no Brasil.

    A loucura continua!

    Após da falência da Vecchi, a MAD desapareceu das bancas. O último número, o 103, trazia na capa o E.T. do filme de Spielberg. Mais um ano se passaria sem que a MAD desse sinal de vida. Nesse meio tempo, o dono da marca, William Gaines, estudava a negociação com duas editoras: a Abril e a Record. A Abril estava interessada na revista. A Record na coleção de livros de bolso. Gaines, entretanto, queria negociar um pacote, ou seja, a editora que comprasse deveria publicar as duas vertentes. A Abril pulou fora porque era uma editora só de revistas, e a Record relutava em lançar a revista, por ser especializada em livros. Sérgio Machado, vice-presidente da Record, havia me chamado para coordenar os livros MAD, mas estava com esse problema. - Não temos experiência de fazer revistas - disse ele. - Isso não é problema, esse tipo de experiência eu tenho de sobra - respondi. Decidimos fazer uma experiência. A Record compraria os direitos tanto dos livros como das revistas e eu ficaria responsável pela edição dos dois. O único problema eram os últimos resultados da Vecchi, que estavam meio baixos.

    Depois de minha saída no número 91 da antiga série, as vendas despencaram, porque de certa forma a revista perdeu o rumo. Isso, aliado às dificuldades que a Vecchi enfrentava até para adquirir papel, fez a MAD baixar de estáveis 130 mil exemplares para 30 mil em pouco mais de um ano. Por isso, a Record estava sendo meio cautelosa. A história se repetiu mais uma vez, com os mesmos exatos números: foi lançada uma tiragem experimental de 40 mil exemplares, distribuída apenas nas praças do Rio e SP. Se não vendesse, o encalhe seria redistribuído para o interior. Como acontecera exatamente dez anos antes, nos primeiros dias do check-up de vendas ficou evidente que a MAD era um sucesso e uma tiragem adicional de 30 mil foi reimpressa.

    A numeração recomeçou do 1, e o título mudou ligeiramente: ao invés de MAD em Português, passou a ser MAD In Brazil. A nova MAD teve até campanha publicitária na TV durante seu lançamento. A capa do número 1 só mostrava o presidenciável Paulo Maluf arrancando uma máscara de Neuman. Ou seria o contrário? Chagas tornou-se o artista principal da MAD in Brazil, fazendo todas as capas e ilustrando as sátiras que eu mesmo escrevia. A publicação, mostrando o fenômeno Roberta Close, saiu no número 3. Este teve a seguinte curiosidade: o anúncio foi estrelado por uma atriz que logo despontou. Alfredo Jr., irmão de Sérgio, estava encarregado de supervisionar a campanha. Ele me mostrou o roteiro do anúncio: uma voz grossa de homem falava: "a ginga e os encantos da mulher brasileira..." e a câmera percorria um corpo escultural. Só que era a própria mulher falando com voz de homem, pois não passava de um travesti. Faltava achar uma atriz. A maioria das gostosas da época não estava topando o minúsculo cachê, mas havia "uma garota iniciante, de 18 anos, que é muito bonita e topou fazer o anúncio". Essa atriz era Cláudia Raia. Não se sabe se foi a MAD que deu sorte à Cláudia, mas alguns meses depois ela estava fazendo ainda mais sucesso do que Roberta Close.

    A nova série já começava com uma cota de páginas nacionais, e alguns dos colaboradores antigos, como o Flávio, foram mantidos. Outros foram aparecendo e se tornaram clássicos da revista, como foi o caso do Ed. Mais tarde, outro desenhista de traço realista surgia para cuidar das sátiras: Tako. Chagas estava envolvido com outros projetos e sua colaboração foi rareando. As sátiras foram assumidas por Tako e André Almeida, e as capas por Rogério W.S.

    Mas a grande novidade da revista era um tal de Ota. Muita gente pergunta por que o Ota surgiu apenas na segunda fase, se eu trabalhava desde a primeira série na editoria. A explicação era que, na Vecchi, funcionários não podiam colaborar com as revistas. A isso se soma o fato de que eram muitas revistas sob a minha jurisdição e a atividade editorial consumia todo o meu tempo. Na nova série, coloquei como única condição que eu pudesse publicar meu próprio trabalho na revista, o que o Sérgio Machado topou sem discutir. Quem não gostou muito da minha estréia na revista foram os leitores. Chegaram dezenas de cartas dizendo que eu era muito ruim e deveria ser expulso do quadro de colaboradores. Felizmente, essa pressão dos leitores durou apenas cerca de dois anos.

    Por mais estranho que pareça, virei estrela da revista por mero acaso. Se eu tivesse atendido às exigências dos leitores, eu teria me auto-expulsado nas primeiras edições. Meu estilo rápido demais contrastava com o resto da revista. O milagre aconteceu quando foi publicado o primeiro Relatório Ota. Estávamos no número 25, e naquela edição eu estava com um problema: a falta de uma matéria de capa. Faltavam poucos dias para entregar a revista na gráfica e não haveria tempo de providenciar uma sátira nem havia nenhum filme americano fazendo sucesso. A solução era apelar para algum tema genérico. A única coisa que eu tinha para colocar era... o Relatório Ota sobre Drogas. Essa edição, proporcionalmente, foi a que mais vendeu em toda a história da revista: chegou a mais de 90% de vendas e puxou a MAD ainda mais para cima. A revista desapareceu das bancas, e algo mais estranho ainda aconteceu: começaram a chegar cartas de elogios para o meu trabalho, em vez de pedirem a minha expulsão, os leitores pediam mais páginas de Ota. Meio que por acaso, eu havia descoberto a fórmula mágica de agradar os leitores.

    O Relatório Ota era uma espécie de samba do crioulo doido. Eu pegava um assunto e inventava perguntas e respostas, estatísticas falsas e outras baboseiras. Algo tipo assim: “É verdade que a maconha tira os reflexos dos motoristas?” - e a resposta: "Não, demos maconha para vários motoristas fumarem, colocamos eles diante do espelho e os reflexos não desapareceram". Não sei como, mas os leitores da MAD adoravam essas baboseiras e o Relatório Ota foi virando uma atração regular.

    No número 27 saía o "Relatório Ota Sobre Sexo", no 29 o "Relatório Ota Sobre Aids", e os temas foram se sucedendo: Energia Nuclear, Homens, Mulheres, Nudismo, Paquera, Inflação, Seqüestros, Casamentos entre Iguais, Clones, Paquera, Pichações, Mulheres Peladas, Extra-Terrestres, e o que mais estivesse na moda. Foram mais de 30 publicados nos anos que se seguiram. Em tempo: para efeito de informação, o Relatório Ota NÃO começou na MAD, e sim uns dois anos antes, numa edição especial de uma revista chamada Careta. Foi o "Relatório Hota Sobre Sexo", um trocadilho com o livro da moda, "O Relatório Hite". Na MAD tirei o "H". Parte desse relatório quase desconhecido foi republicada no segundo Relatório publicado na MAD.

    O Relatório Ota foi ganhando alguns personagens recorrentes, a como o chinês Ming Youn Lee, que viveu du­rante a Dinastia Du Nêh, e foi o responsável pela maioria das invenções conhecidas, geralmente em grupos de três: "tal coisa foi inventada na China, durante a Dinastia Du Nêh pelo genial Ming Youn Lee, o mesmo que inventou a feijoada, a dor de barriga e o papel higiênico." Lee geralmente inventava a causa, a conseqüência e a cura. Qualquer coisa tinha sido inventada por ele, durante os opressivos anos da Dinastia Du Nêh, até mesmo a Internet. Só que os registros tinham sido destruídos e as mesmas invenções mais tarde foram copiadas por terceiros. Após o surgimento da primeira referência a Lee, virou um bordão em todo relatório Ota atribuir a invenção das coisas a ele. Lee era uma piada interna, uma homenagem a um colega de trabalho chamado Ming Young Lee, um coreano que trabalhava no setor de capas da Editora Record, que era chefiado adivinhe por quem? Por um artista gráfico chamado Douné. O verdadeiro Lee quebrava vários galhos para a MAD, inclusive chegou a ilustrar algumas capas e contracapas.

    Outros personagens recorrentes do Relatório Ota foram igualmente inspirados em pessoas da vida real. As famosas gêmeas siamesas Fátima e Mitizy Ristow eram inspiradas nas donas da agência de publicidade Olive&Ristow, que cuidava das campanhas da editora. Depois, para obter maior sonoridade e evitar processos, mudei o nome das gêmeas para Itzy e Mitzy.

    Assim se passaram mais de quinze anos de Relatórios Ota. Até hoje encontro pessoas que dizem que se lembram deles e confessam que alguma vez morreram de rir com eles. Mas nem só de Ota viveu a MAD esse tempo todo. O sucesso da MAD brasileira se deve a todo um conjunto de artistas.

    MAD chega aos anos 90

    MAD atravessou os anos 80 incólume. A molecada que lia não era a mesma - os leitores da primeira série agora já eram pais de família, mas seus filhos já começavam a se inte­ressar pela revista. Era quase a mesma coisa dos anos 70, com apenas uma baixa significativa: Don Martin. Em meados dos anos 80, Don se desentendeu com William Gaines e foi embora para nunca mais voltar.

    Outro ícone dos anos 60, o cubano Antonio Prohias, também se afastou, mas por motivos de doença. Seus Spys continuaram firmes e fortes, desenhados anonimamente por outras mãos (notadamente Bob Clark) e quase ninguém percebeu a diferença. Mais tarde, em meados dos anos 90, os espiões seriam definitivamente assumidos por Peter Kuper. Al Jaffee e Aragonés, juntamente com Dave Berg (do lado irônico), continuam vivos e em atividade.

    O resto dos "mesmos idiotas de sempre" foram se aposentando e substituídos por talentos novos como Tom Bink, John Caldwell e outros. Um novo personagem recorrente, Mário (Monroe, no origi­nal), criado por Bill Wray, conquistou um espaço fixo na revista. No Brasil, a revista também teve uma renovação de colaboradores: o escrete de roteiristas ganhou a participação dos roteiristas P.C. Barreto e Xandelon, e uma safra de novos desenhistas, como Marcelo Martinez e Fernando Miller. Além deles, André Almeida, o filho de Cláudio Almeida (antigo parceiro de Chagas nas sátiras) virou colaborador habitual. Uma nova geração estava se formando. Os "antigos", como Vilmar, Chagas, Flávio, Nivaldo, Tibúrcio, Pupuca e Ed, continuavam.

    Por volta de 1995 as coisas estavam neste pé. Só que, depois dos planos econômicos iniciados no governo Collor (ele e a ministra Zélia Cardoso de Mello foram as vítimas prediletas da revista durante algum tempo), as vendas começaram a baixar e nunca mais subiram.

    Esse fenômeno atingiu praticamente todas as revistas em quadrinhos, que chegaram a ter um booom no final anos 80, mas foram desaparecendo gradativamente. MAD foi uma das poucas sobreviventes, embora para a maioria das pessoas parecesse que tinha acabado.

    Sempre que eu ia a algum lugar, era apresentado como "Ota, o ex-editor da extinta revista MAD". Eu retrucava que não era ex, primeiro porque a revista ainda estava saindo, segundo porque continuava como editor. A surpresa era geral: "ué, mas a MAD não acabou?". Para todos, isso era um fato inusitado. Eles não conseguiam entender que a revista ainda sobrevivesse. Isso é fácil de explicar. A MAD sempre foi lida, desde o seu lançamento, por adolescentes. E adolescentes só são adolescentes quando estão... adolescendo. Depois que a vítima sai dessa conturbada fase da vida, arranja alguma coisa melhor para fazer do que ler MAD, tipo arrumar uma namorada. Os jornaleiros foram deixando de expor a revista, preferindo colocar outras mais vendidas, e por isso a MAD passou a ficar escondida no fundo da banca. Raramente, quando a capa mostrava algum personagem de extremo sucesso, como a Tiazinha, ela voltava à frente dos postos de venda, mas normalmente dividia um cantinho esquecido com as demais revistas em quadrinhos. Por essa razão, a impressão geral era de que ela tinha acabado. Ora, dirão vocês, os adolescentes das décadas de 70 e 80 cresceram, mas outros adolescentes surgiram... sim, isso é verdade. Mas outros fatores também influíram. Eram menos adolescentes. A população parou de crescer nessa faixa, simplesmente porque os pais pararam de ter tantos filhos como antes, em parte porque os casais se separavam mais cedo, mas principalmente porque estava cada vez mais difícil sustentar uma família grande. Isso foi uma tendência da classe média que se acentuou nos anos 90. Se antes uma família média tinha em torno de quatro filhos, agora esse número foi reduzido pela metade. Isso na classe média. Quanto aos pobres, continuavam tendo tantos filhos como antes, mas pobres nunca tiveram dinheiro para gastar em revistas.

    Em meados dos anos 90, os tempos haviam mudado de vez. Além do estrangulamento da classe média, surgiram outras coisas que desviaram a atenção do público, como os jogos de computador e a Internet. Em 1995, as vendas da MAD haviam baixado para 40 mil exemplares e não paravam de cair a cada número. Mesmo assim, a revista sobreviveu até o ano 2000. Houve algumas baixas: em 1995 e 1996, colaboradores da “velha guarda” como Vilmar Rodrigues e José Alberto morreram; outros simplesmente desapareceram, quando as verbas foram encurtando. A produção da revista continuava, mas nas mãos de uma turma mais jovem. Marcelo Martinez, que começou mandando cartuns, durante algum tempo passou a escrever também as sátiras. Fernando Miller, que estreou como ilustrador, virou pau-pra-toda-obra e assumiu o cargo de editor de arte da revista quando ela foi terceirizada.

    Os Almeidas - pai e filho - assumiram as sátiras das novelas e filmes. Pupuca transformou seu Circo Garcia numa seção fixa. Tako, que havia emigrado para o Japão no fim dos anos 80, voltou ao Brasil e continuou a colaborar. Fechando esse incrível exército de Brancaleone estava Xalberto, uma reve­lação do underground brasileiro nos anos 70, agora um senhor de 50 anos que ainda mandava colaborações. Segurando a peteca, eu e o Miller. Todos estavam meio cansados, mas ainda assim a revista continuava saindo, ainda que com não muita regularidade. A segunda série da Record foi até o número 158, de agosto de 2000. Quando se anunciou o fim da MAD, houve uma espécie de comoção nacional. As pessoas estupefatas percebiam que a MAD nunca tinha acabado esse tempo todo, e se perguntavam como uma revista tão tradicional foi morrer assim. Bem, toda história tem um final feliz. Outra editora, a Mythos, comprou os direitos e vai começar uma nova série. MAD continua!

    O único que nunca se deixou abater foi um leitor maluco chamado Welberson. Ele até hoje é o fã número 1 da MAD. Ele começou a dar as caras por volta do número 60, e infelizmente nunca mais deixou de nos perturbar. Primeiro através das cartas, depois por telefone, e finalmente aparecendo pesso­almente na Redação. Para piorar, conseguiu meu número de telefone de casa e ficava me perturbando todo santo dia, inclusive sábados, domingos e feriados. Depois de algum tempo, vendo que não conseguiria vencê-lo, tentei cooptá-lo contratando-o para trabalhar na revista: ele passaria a responder a Seção de Cartas. Ele nunca soube o novo endereço da Redação, depois que a revista foi terceirizada e passou a ser produzida fora da Editora Record. Como nos filmes sobre a máfia, eu marcava encontros com eles em restaurantes e outros locais públicos. Depois, pegava um táxi e mandava o motorista dar uma volta pela cidade, para despistar. Welberson era tão chato que essas precauções eram extremamente necessárias: uma vez, sabendo que o cartunista Flávio morava na Rua Joaquim Palhares, ficou tocando a campainha de todos os prédios da rua até localizá-lo. Quando isso aconteceu, Flávio, um gigante de dois metros de altura, desceu furioso as escadas e deu uma corrida nele da qual ele nunca vai se esquecer. Welberson foi até entrevistado no programa Jô Soares como "o homem mais chato do mundo". Foi aí que estarrecida, a população de todo o Brasil percebeu que aquele chato de galocha realmente existia, e não era mais uma invenção da revista. Welberson, esta edição especial do "Pior do MAD" é dedicada a você. Mas, pelo amor de Deus, deixe-nos em paz na nova série! - Otacílio d'Assunção - Agosto de 2000.


    Em dezembro de 2000, após ficar apenas três meses sem sair nas bancas, a MAD voltou novamente a ser publicada, agora pela Mythos Editora que também contou com o trabalho do Ota. A terceira edição da MAD chegou ao fim no número 46, em dezembro de 2006.

    Em março de 2008, depois de uma ausência de um ano e dois meses das bancas, a MAD voltou a ser publicada, agora pela Panini Comics que comprou os direitos da revista. Pela quarta vez a MAD conta com a presença do mitológico Ota que editou mais de 300 números da publicação e acabou se tornando uma de suas atrações com o "Relatório Ota". Um detalhe desta nova série é que Ota foi convidado para editar a revista, mas desta vez ficando responsável apenas pelo conteúdo nacional. O material internacional fica por conta do editor Raphael Fernandes.

    Fonte: Otacílio d´Assunção http://www.madmania.com.br/
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    Item Reviewed: Revista MAD, sucesso nos anos 80... Rating: 5 Reviewed By: Daniel A. Tutunic
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